terça-feira, 31 de julho de 2018

Todas as palavras são poucas
quando o livro é um náufrago perdido
dás de beber ao mar
o lugar onde o corpo nasceu.
O chão espanta a cor
tão longe da esquálida casa 
a alma pequenina
um romance ancestral vibra
na mão do arqueólogo.
Voltamos anjos quebrados
com asas descaídas
moribundos de nós.
O mar abandona-nos
num tórrido verão outonal
a memória desloca
o prefácio do orvalho
lutando pela opressão rasgada
num estranho manuscrito.
Ante meus olhos literários
o tráfego poético
escraviza sem pudor
a saliva sem memória.
Todas as palavras bizarras
numa trilogia migrante
invertem os sons
do  menino liberto.

Manuela Silva