sábado, 30 de novembro de 2019

Sereia


SEREIA

Nas sombras do teto, arte celestial
Habitara a sereia no fundo do mar
Os pescadores incansáveis lançam redes
E à tona pululam poemas entraçados
E cânticos da lua a navegar.
Como seria se o céu assombrasse a terra sonolenta
E declamasse versos intrusos
À porta da morte?

Dunas




Quando a flor morrer 
entre as salinas das dunas
tu renascerás até aos confins dos mares
a salga baterá 
no porto de embarque
escancarada a arfar sonetos 
de amor e desdém
contudo a perfeição morará num endereço incompleto
com letras escondidas
em corais arrebitados 
pelo vento estarrecido
Porque a morte chegará
na sofreguidão das luas.
Enquanto isso alimentarás a vaidade
em golpes de poeira.

Seixos


Enrolam-se seixos

Na abada do claustro
o aroma do vinho a bafio molhado
de ervas daninhas
sob a custódia maternal
espreguiçam-se na areia
à procura das conchas marinhas.
Subitamente o sol escureceu
e a paisagem ferida descalça caminhos marítimos
no tempo em que os dias se fazem
numa torrente interior
de olhos voláteis
que se doam em cruz
aos farrapos humanos.
O voo da gaivota personifica o desejo.