terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Mãe

Magnânia suprema
douta no querer e sentir...
Seus olhos
que tudo vêem e acreditam
têm a força e o esplendor da terra.
Suas mãos de cetim
amparam os humildes
em total transparência esculpida
a beleza rara do éden
em suaves rios de ternura.
Seu rosto
coragem ao amanhecer
dotada de um espírito infinito
transmite a alegria de viver.
Não vacila nem pede em troca
o nascer do sol
apenas ergue as mãos suaves ao arco-íris.
Seu corpo
perfumado de lírios roxos
ramalhete de flores e madrepérolas
confiante em perfeita harmonia com a natureza.
Candura na voz
audácia de bem fazer e ser gentil
enquanto a Mãe existir no manto
superficial da terra
os homens não vacilarão.


Retrato de Mulher

Contemplo o seu retrato
que espelha sobre a minha cabeça
algo de campestre no seu sorriso
um esboço de trigo, no campo
simples na sua auréola
sorriso de prata e candura fina.
A sombra de luz
transporta no seu rosto
serenidade estonteante
claridade pura de mar.
As suas mãos amainam a tempestade
aptas para abraçar versos de amor
coração da terra sedoso
fogo primaveril
nos ramos da cerejeira.
Mãos abertas para os filhos
sem espaços de dor ao luar
azul intenso do brilho da sua presença
no olhar da grandiosidade das montanhas
Mãos acetinadas de rosas perfumadas no clamor
e no esplendor revela um quadro florido
da mulher-raíz, mulher-luz
forte, apaziguadora
que acalma o coração mais atribulado.
Que seria da humanidade sem a maternidade fecunda da terra???

crianças

De mãos entrelaçadas
sopram a vida ao de leve
por entre os dedos o destino.
Traçam mil descobertas
quais estrelas cintilantes
num límpido regato.
Saboreiam gestos
murmuram palavras ao vento
a magia no baloiço perdura
na singeleza dos atos
numa paleta de cores.
Crianças com brincadeiras fugazes
ao som do violino
maestros, maestrinas
dançam bailarinas
esvoaçando poesia
a um ritmo estonteante.
Crianças, futuro nas mãos
sonhos risonhos
ilustram o mundo de pureza e inocência
tempo de vida feliz
jogos, quimeras e alma de petiz.
Tanta euforia, tamanha rebeldia!
Mal me quer
Bem me quer
levam na mão a esperança
e dentro da sacola, o sorriso da infância.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Aves raras

Os pássaros acordaram em pequenas teias
libertaram odores das penas coloridas
sons vibrantes no ar
marcaram a maresia de uma pobre alma
esquecida e nua.
Alegoria
euforia
sonhos e conquistas num oceano de amor.
Sabe bem o beijo das ninfas à beira rio
pássaros esvoaçantes
estrelas dançantes ao luar da lua cheia
no horizonte o mar por companhia.
Somente tu
Somente nós
O infinito é incansável ao olhar...

Deixa

Deixa os grãos de areia
prolongarem nos dedos finos
um cântico leve da ave.

Deixa respirar
o vibrato morno das cordas
penduradas no relvado do jardim
dos dias pachorrentos.

Deixa o sabor acre
em desalinho nos cabelos finos
ondulantes nas marés de espuma
rodeadas de maresia.

Deixa cair o rosto brando
na leveza dos dias citadinos
as emoções da alma
ao virar da esquina.

Deixa que o sopro da vida inteira
assuma o papel principal
na juventude clara, o dito pelo não dito
e façamos uma festa!

Sibila

A chuva derrama 
as lágrimas no rio translúcido
adormecendo o arco-íris
O sol as enxuga
ao enfrentar a névoa matinal
o sibilar dos silvos nas esteiras estreitas
em contra ciclo apressado
cai miudinha num fio de cordel
pendente num raiozinho de luz
no crepúsculo deixado pelos trigais
o sabor doce nos olhos do mar
ensaboando o destino da brisa salgada
as gotículas no telhado branco
lavam decididamente a alma. 

Words

As palavras são duras
quando matam à nascença
a mente de quem as sente
elas choram e dançam
em remoinho frenético e acutilante.
Bronzeiam ao pôr do sol
sem eira nem beira
de bruços
qual folhas pendentes
entrecortadas , rebeldes
esgueiram-se quais
pétalas exorbitantes
a aquecer o sol.
Palavras soltas
arremessadas ao vento
estonteiam o bem-querer
a sombra parafraseada leve e tranquila
risca a palavra do mapa sem ver
em contra luz o beija-flor.

Hipnose

Não durmo, não sonho
vivo em hipnose
o latejar das fontes
arrepia-me os ossos.
Sem querer os desenhos
desfazem-se na água
e a terra amolecida de barro
apodreceu a semente.
A encruzilhada desfez
as palavras malditas
e a víbora estremeceu
o vazio de cordas torcidas
na noite ardida desapareceu a floresta verde.
Rufam os tambores
e o beijo sôfrego de carmim
espelha o suor do corpo no universo.

Jasmins

Os jasmins brancos decoram
a cidade de gentes
são esquemas revelados aos turistas
segredos de partos esventrados.
Alegorias roubadas ao infinito do céu
enchente de casas viradas para a lua.
Os labirintos escondem-se no solo acetinado de flores silvestres
cujas penas cobertas a descoberto
deixam a música gemer baixinho
ao fim da tarde salgando a pintura na tela.
Sons agudos, graves em cheio nos olhos
cada minuto é um filtro que nasce
corrói...devassa as pupilas cansadas.
A vaga invade a pele lustrosa da rosa
e o canto desolado da flauta
jamais toca no  infinito
no rodapé bendito!

Prodígio

Ninguém sussurrou ao meu ouvido
que a missão na terra
era um prodígio
de uma guitarra prateada
despida de lua na noite branda.

Ninguém me chamou à razão
que os sonhos são os melhores trilhos
para calcorrear a paisagem
mas com os pés levemente assentes no solo.

Ninguém tocou no meu ombro
e sussurrou para dentro da alma
que os olhos são a cor do mar
e a vida nasce a cada semear.

Ninguém me contou
mas eu vi no alcance do horizonte
que a fonte azul jorra sempre
assim a queira beber...