quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Saudades

No recanto suburbano 
da cidade lisboeta
apanho o elétrico de recordações
e o cheiro ambulante das varinas descem
colina abaixo sob os negros carris
As alvíssaras de liberdade 
sorrateiramente marejam os olhos verdes da paisagem alfacinha
como se viessem na penumbra da noite
despertar o silvo condenado a uma só voz
na calçada, o eco aromatiza
os cérebros adormecidos em brasa
em frente da praça do Rossio em setembro
onde o princepezinho
sente o apito da chegada
nos versos tatuados na estrada
Aquele anjo branco no elétrico
cavalgando os sulcos do caminho da gaivota
que no beiral
agita a torre do relógio
no tempo incerto que sabe de cor
a dor da partida
A viagem abate o frio por dentro
no calor intenso da praça 25 de abril
naquele primeiro encontro
que me amputa o corpo
sem dramas.

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