sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Coragem


  1. Coragem
A armadura do cavaleiro
mói o corpo, mas não pesa
batalhas e conquistas
na vã glória do guerreiro.
A  mordaça presa pelo nó afogado
das horas tristes de luta
o dia amanhece em cada alvorecer
e se faz tarde para o marinheiro.
Será que ele sabe os segredos
das estrelas do mar
quando flutuam nas memórias
e criam raízes de nada
nem de coisa alguma
ao subir a corrente dos nados vivos?

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Descobrimentos portugueses

 Descobrimentos Portugueses


A amizade dos frutos suculentos
povoa mentes de aventura

buscando limos verdes de barro
que se desprendem da terra
nos sete mares esculpidas
sereias de encantar
delícias para os ouvidos dos marinheiros errantes
viajantes nos corais levedados
pelas caravelas e gigantes dos mares.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Incêndios

Incêndios

O rio corre na ilha
trespassado pela procriação
as cinzas espalhadas
no coberto vegetal
gelam o medo do fogo inusitado
as veias salgadas, arrepia
gritos lacinantes de dor
à passagem voraz, consome
sem pena, sem mágoa
o império calcificado
na sangrenta pedra imóvel
aos incautos, sufoca
desalmadamente
o coração dilacerado desprende-se
e apaga a chama medonha
reclamando compaixão
o aço oxidado jaz
e o bombeiro estende os braços
para apagar o fogo da paixão
o regato geme baixinho
nos negros socalcos
arrastando até ao leito
as lágrimas gemidas do povo
de avental encardido.

domingo, 19 de agosto de 2018

Sereia

A sereia de colar de contas
deixa cair nas escamas de peixe
a nudez da alma
corais enrodilhados
nas profundezas dos oceanos
içam velas nos mastros dos navios
serpenteando o vício dos deuses vencidos.
Sem temor, colinas de búzios trapezistas
deixam pegadas na areia molhada
ferro e fogo dos olhos de dragão
no cais à espera
da virgem presa nas mãos
dos exploradores dos mares
o espírito contempla o retrato idílico
espiral de luz e de beleza
ante os olhos curiosos
de qualquer imortal.

sábado, 18 de agosto de 2018

Escrita

Escrevo.
Simplesmente.
Porque me apetece.
Olho o mundo essencial
invisível aos olhos.
Existes
quanto baste
a alma arrebata-me
e a flor quer ser gente.
Palavras que revigoram
tolham pensamentos lúgubres
do nada, átmo errante
fugaz à partida
incansável do ser.
Eternidade da vida
pontes permanecem
na quietude do universo.
Arrasto a fantasia
para debaixo da sombra do eu
ondulante  de magia ancestral
seguro o anjo da paz.
Faz sentido, bem que podia
limar-te na ante estreia.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018






As folhas brilham ao amanhecer
não se rendem ao cansaço
dos pés
os dias quentes refrescam
os limoeiros ao virar da esquina
a sombra do vão de escada
recusa sair do lugar
onde as raízes se estendem
de bordados sorrateiros
até cuspir o mar
o sol poente, de segredo
espreita a tranquilidade
dos dias amenos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018






É no meio do silêncio
que as aves assobiam
ao nascer do sol
e a fragilidade humana
queda-se ao adormecer.
Na casa iluminada
luz ausente percorre o labirinto
de veias de barro
o vaso se quebra, sem pranto
ao som do violino, geme.
O ruído do arraial
repenica ao longe
naquela passagem estreita
presa ao areal rançoso da praia.
Sopra o vento
o convite mudo
para dançar na garganta do bêbado
o vinho salgado
e o bolo do caco.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

É a ilha
quatro grafemas
quatro cravos à beira mar
soprando as velas dos mastros
do barco da minha infância.

É a ilha
que respira a espuma dos dedos
gaivotas sem asas a voar
desfraldando nuas e cruas
sombras de rosas ao luar.


É a ilha
que queima a lava por dentro
senhora de vendavais
nascentes de gente, sem mágoa
 homens em tronco nu, nos areais.


É a ilha
de marinheiros e piratas
de guindastes rochosos
cisnes brancos no cabelo ao vento
vulcão interno a borbulhar...

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Viver
o grito ardente
jaz no mais profundo do meu sentir.
Viver
a sede insaciável
nos meus lábios estremece.
Viver
a interrogação que se impõe
na minha mente sem resposta
nas horas ledas e tristes.
Viver
uma melodia de mansinho bate nas rochas
deixando seu rasto na maresia branca.
Viver
é beijar a areia salgada
em ondas de espuma nas lágrimas de mar
arrastando-me até aos confins
da Oceania naufragada.

sábado, 11 de agosto de 2018

o silêncio tem voz
na parábola do verbo
é gente classificado na mítica
criatividade poética.
Se o silêncio sentisse
e a poesia morresse
a alma jazia inerte.
Cruzam-se as mãos
faz-se silêncio
a palavra poética
reergueu-se.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A tempestade
arrastou o nevoeiro
de granizos finos
nos insetos amortecidos
a chuva libertina das chamas
formaram lençóis quentes
sobre a terra
tudo ficou enladrilhado
nos pensamentos ancestrais.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

A lassidão das palavras
estonteantes na fúria veloz
medem a distância do saber
a ironia da guerra em si acarreta
a paz num voo rasante.
O  estalo do foguete
no limite do caminho
coloca um travão descompassado
nas pedras da calçada.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

sim ou talvez não
ir ao fundo da questão
recuperar o fôlego sem hesitação
frente com frente
quem não vê não sente
o enigma da vida
capitólio acostado
de braços abertos

a noite afugenta
pedala as cicatrizes de outrora
sem sentir o grito do fogo
de uma janela que não abre.
na cama, no quarto perfumado
de lírios suaves do campo
a bicicleta em riste
réstea de encanto seduzem
as mãos vazias de coisa alguma.

domingo, 5 de agosto de 2018

a ponta oblíqua
ante meus olhos esquecida
narra a vivência do mar
num sopro de espuma
no esgar do sublime cais.
quem dá a manhã
ao anoitecer estrelas sem brilho

enquanto no líquido incolor
trespassa o sal adocicado
do teu corpo moribundo
sem ais,suspiras
no desnorte a incerteza do advir.
gente que passa
a passo largo
apressada
não sente que os deuses
têm pressa
de querer chegar ao fim
sem destino vagueiam
espreitando a força
do pulsar do relógio
batimento cardíaco em frenesim
o aço não verga
e os transuentes caminham
sem rumo porque sentem
que a meta não pode ser
o fim em si mesmo.

sábado, 4 de agosto de 2018

enquanto o arco-íris estiver ao leme
o barco não afunda
e a bússola não ganha ferrugem.

sem medo de arriscar
ganha a volta, marca pontos
vence no alto-mar
contra ventos e marés
o comandante arrepia a pele
dos marinheiros exaustos
iça as velas do velómetro
na primeira prova classificada.
o site expande a coragem
do marujo-mor
nas águas salgadas arrulha
os lábios arroxeados do pirata.
o lápis anguloso
na paisagem do quadro
bordado a madrepérolas
rasga ténues linhas
e desenha círculos de amor.
cores indistintas
na face pálida dão vida
porque sonhar não custa nada
eles bem sabem e veem
que o chão espelha o corpo nu
numa perspetiva oblíqua
enquanto o sal perfuma
a ilha bronzeada pelo sol.
A pegada na areia
metamorfose amorfa
de camaleão aguado
a valsa ao longe
ecoa no tímpano agreste
e o sol sorrateiro no alto da duna
espreita a neblina
impossível de sentir
o entrecorte cruzado da nua rua
a lua baloiça navegante na bruma.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Palavras para dizer
outra coisa para contar
na metade da vida
que há-de vir
é o frio de fogo que embalo
o inverno sobre o verão estranho
qual ouro banhado em prata
o universo em semi círculos abraçado
reproduz-se e um filho nasce
no ventre uma pergunta
no princípio do fim.
A imagem de fonemas no crepúsculo
deita na ruralidade
o deleite aprazível do jardim acetinado
trazendo de volta
o anjo para o pé de mim
sob o pêndulo de um relógio
um quadro da minha imagem
um espelho em miragem
um livro esquecido
a arder no entardecer
amar e adormecer
sei bem o que sinto
ao teu lado não minto.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018


Adiar o tempo
e tudo o que nele envolve
é deixar à margem
o artista que não fala
no horário do fim
ser objeto de nada em metamorfose
sentir arqueologia sem arte
dona sem tempo
numa conquista solitária.
O bailarino sem palco
ao ritmo do nevoeiro
balanceia a coreografia
no delírio da literatura grega
no sentir incompleto
o que lhe falta é a incerteza
para ser tudo num mausoleu infinito.
Debaixo do sol
brindemos o nosso corpo
deixemos  a inquietação
percorrer a pele desnudada
num trilho bronzeado
sob o carmim adocicado de palavras.
Deixemos fluir
o corpo livre
a mente sã
da giesta emoldurada pelos raios
caídos das nossas mãos entrelaçadas.