sábado, 14 de dezembro de 2019

Se não fosse


Se não fosse o vento
Que assobia sem cessar
À volta, sonhos de nada
Prontos a conquistar
Inertes desfaleceriam
Sem gemidos ao entardecer
Quedos e mudos
No patamar do vão da escada.
Se não fosse o sol
Que  aquece os braços indolores
Do fogo da paixão
Rastejaria no ladrilho o brilho
Do perfume em riste.
Se não fosse a estrela cadente
Com a magia do verbo amar
O teu rosto no espelho
Era uma pedra incandescente.

Não sei ao certo


Não saberei dizer
até quando a corda enrola
na possibilidade sequer dos dias
em que os uivos do lobisomem
humedeceram o horizonte pendular.
Amanhã será passado
numa manhã incerta
em que o presente esmorece o véu cristalino.
As saudades percorrem veias debaixo da pele
agarradas ao incerto da certeza
de estar em algum lugar
com sabor e saber dos dias em agonia
arrebitando o amanhecer
enquanto o pássaro viajante
lança uma piscadela
aos homens que varrem a rua.

Casca de noz


A casca de noz partiu a semente do fruto
Jorrou na água e infiltrou-se
Na terra salgada 
pela sabedoria do velho marinheiro.
O olhar de soslaio inquieta as ondas azuladas
em seixos mágicos nas dunas.
A fúria da natureza destrói o que o homem constrói
como se da arma saísse pólvora seca.
O navio de gotículas mistas de neve salgada
desfaz os braços em círculos
para o encerrar da lua
no sorriso lacrimante do sal 
aos quatro cantos do universo.

Fragrâncias


As folhas amarelecidas 
rodopiam em miragem
através da varanda dos teus olhos
gastos pela paisagem recortada
por vales abruptos
onde a felicidade comanda os suspiros
e o dióspiro.
Fragrâncias  atrás das vermelhas searas 
deixam a terra 
boquiaberta
de equipas enfileiradas de silêncio.

Ilha abençoada


O tempo passa no alvor 
da madrugada quente
gelando crónicas passageiras
por isso, a avestruz exalta-se de alegria
porque o noivo escolheu
A experiência da sabedoria.
Porém o nada foi feito
e o fruto da videira
borda o sumo no soneto liquefeito
nos lábios desfolhados
pela humidade do Porto Santo.

Criação


Criar na mente um puzzlle de madrepérolas
Um rendilhado ao escurecer a céu aberto
Faz avançar as velas numa estação qualquer.
Criar é imaginar
O final da estrada no trampolim
Quando o verão demora no regaço
Na ausência do jogo.

domingo, 1 de dezembro de 2019

Amar


Amar é deixar que as ondas
Arrastem a aventura do fruto
O destino do avesso no parto do deserto mesclado com tons febris
O branco mar apazigua a alma do samaritano
Porque amar é soltar a maresia no sopro solitário
E provar o sal de dor e sonho
Correr para chegar ao final da meta
Afastar o frio e voar sem asas
Num infinito beijo da terra
No horizonte de prata fina.

sábado, 30 de novembro de 2019

Sereia


SEREIA

Nas sombras do teto, arte celestial
Habitara a sereia no fundo do mar
Os pescadores incansáveis lançam redes
E à tona pululam poemas entraçados
E cânticos da lua a navegar.
Como seria se o céu assombrasse a terra sonolenta
E declamasse versos intrusos
À porta da morte?

Dunas




Quando a flor morrer 
entre as salinas das dunas
tu renascerás até aos confins dos mares
a salga baterá 
no porto de embarque
escancarada a arfar sonetos 
de amor e desdém
contudo a perfeição morará num endereço incompleto
com letras escondidas
em corais arrebitados 
pelo vento estarrecido
Porque a morte chegará
na sofreguidão das luas.
Enquanto isso alimentarás a vaidade
em golpes de poeira.

Seixos


Enrolam-se seixos

Na abada do claustro
o aroma do vinho a bafio molhado
de ervas daninhas
sob a custódia maternal
espreguiçam-se na areia
à procura das conchas marinhas.
Subitamente o sol escureceu
e a paisagem ferida descalça caminhos marítimos
no tempo em que os dias se fazem
numa torrente interior
de olhos voláteis
que se doam em cruz
aos farrapos humanos.
O voo da gaivota personifica o desejo.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

No campo à beira-mar


no campo à beira-mar
um hotel à deriva
rasga as pedras da lua
num louco frenesim.
o arrepio salgado
salpica nas ténues veias
 personagens indistintas
no cérebro aquecido
pela voz insistente da vida insolente
que bate nos grãos de areia
em silêncio mordaz.
a leveza dos dias
apressa-se sem querer saber do feltro rasante
do verde que afaga e geme
o frio de inverno no cais da eternidade.
a composição indelével dos gestos
perfuram a consistência da vida
na atracão misteriosa de gotículas
Ácidas penetrantes no solo húmido
em competições angulares.

A mestria inocente de roupa lavada
Refresca o torpor do perfume
Enquanto o som distante
Transfere para a subtileza do violino
Os acordes finais do canto
Prestando contas ao universo esguio
Por detrás da cortina esquálida e fina.

Desejos

Se os caminhos deste mundo me levassem para os céus
libertava meus olhos cegos pois sou estagiária feliz.
Como a semente sorri para o universo eu cresço numa escolha acertada
esta pobre alma assanhada anseia natureza pura.
Sou múltiplo dos frutos silvestres a viver coisas divisíveis
porque o sonho comanda a vida num dominó imperfeito.
Não sei se gosto de amoras roxas
nos passos que dou na calçada os meus músculos frágeis
prendem-me o esqueleto por inteiro me dou.
Sou um passado inquieto um presente sumarento
num futuro incerto de água
na corrente do rio salgado me vou. 

domingo, 15 de setembro de 2019

Néctar

Sou parte do império
caído das nuvens
néctar das flores
adocicadas pelo vento tatuado no meu ventre
escondo a terra em pó no ADN do robusto seio
a envelhecer na varanda dos teus olhos negros.
As pedras das trincheiras já beijam o azul das conchas
ao roçar o sono na lava

e a ilha desnudada emerge do sono profundo
o metal milenar das antigas civilizações.
À socapa do sol nascente, meus dias de glória
desenham o futuro da crosta terrestre
a órbita grávida no oceano ensonado.

viagem

Toco na cidade com a ponta dos dedos
avisto a Torre de Florins encharcada de memórias 
e segmentos graníticos de Pisa
nos seis andares sonolentos
a espuma gigantesca de turistas ávidos.
Sem chuva, sem nevoeiro desnudo meus pés
enquanto a viagem no interior de mim mesma
sabe para onde deve divagar
como quem anda em sonhos.
O poeta despe no silêncio os cristais de vidro
de um hotel italiano cujas montras em beleza
enaltecem os vestidos venezianos e mascarilhas fingidas
do Pinóquio.
Nas avenidas expostas, os transuentes
saboreiam ao som da valsa, o apetite voraz das suculentas pizzas.
Estátuas famosas erguem-se dentro do Colosso
amuralhado de históricas pedras de marfim
e sonhos de madrepérolas.
Romeu suspira por Julieta
cujo amor encerra segredos nos cadeados forjados de corações palpitantes.


sábado, 14 de setembro de 2019

Células

As palavras cénicas fazem mutações celulares
no coração distraído
a química arreigada na parábola
desfaz o verbo na frase enrolada
de vozes em silêncio
na carne do Homem
sons fluidos de fonética articulada
fazem eco
num ouvido acordado
A matriz sonora enfatiza o mistério da voz
onde as palavras ficam por dizer
num livro sem préstimo
 zero absoluto de páginas em branco
onde tudo acontece e nada se lhe diz.
A celulose dos vocábulos no léxico comum
pressionam os ensinamentos e as parábolas
num cruzamento de ideias com muitos graus celcius.

Palanquim

A luz dos teus olhos
gelam o sangue de um sem abrigo
a bravura do teu rosto apocalítico
encerra a brancura da alma gémea
o amanhã fica longe
quando o presente mora ao lado da lei
os fortes, na pele sentem o medo 
da névoa clara na fibra sintética do vidro
a bala disparada fere e não mata
porque o pecado em pólvora pede a confissão.

Falta pouco

Falta pouco
para ter direito à voz da alma
que pena no escuro aquando do sibilar das folhas
sob o candeeiro de rua
em silêncio observa suas gentes apressadas.
No conforto dos dias
a gestão do tempo é involuntário
na linha da frente, as dunas sob a planície
fazem reentrâncias seguras
no porto de abrigo ao pôr do sol.
Tombo-me perante as asas da gaivota em Alvalade
corro ao teu encontro a favor do vento
nós duas somos o mel na poncha
no doce cálice de sacrifício e estudo.
O leme e a proa do barco
no azul das cândidas águas que a ilha oferece
navega teu nome em avenida faustosa
agarro o lápis para escrever teu rosto
amanhã na parede do cais.

Páginas em branco

As páginas brancas do livro
ilustram o futuro incerto
de um caminho que se faz caminhando.
O som acutilante
do virar de página
permite envolver-me no sonho
de prosas e enredos pelo oceano acima.
Na maresia, o afluente desagua no meu ventre
de ramos frondosos em linhas demarcadas 
pela saudade ausente de sabor livresco
banhada pela fantasia personificada
onde me elevo em seio nu.

Fragmentos

A montanha abafa o sufoco
do eco paralisante
tamanha pequenez da alma
solta de matéria imaterial.
Ruelas encosta abaixo de jacarandás
povoam a planície vestida
de árvores rentes ao chão.
Sem querer o bálsamo
alegre da flor
no cume da escadaria
baloiça em mim fragmentos dispersos.
As encostas entreabertas de pedra vulcânica
fazem-me cócegas no trampolim
e o vulcão emerge
ecoando na calçada meus passos vagarosos
à beira-mar.
Abraço as redes e em aventura
sacudo a tempestade para trás da lua.

Invenção

A invenção invertida de nós
levada no tempo pelo vento
desfolha a minha existência em ti
porque os versos que escolho
entram pelos olhos do universo
num insaciável despertar
de corpos na praia
imagens de sal
na pele queimada de sol
cujas ondas sonoras de madrugadas frias
rasgam ténues túneis
musculados de pedra basáltica
em abastados sonetos.

Não te quero perto

Não te quero perto
quando o barco soprar longe
e as armas sem guerra
soarem a futilidades de homens inúteis.

Não te quero perto
quando pressentir um dia longo
de conchas acesas
arrefecendo as claras manhãs.

Não te quero perto
quando o fruto adocicado da colmeia
tempera o poema em néctar
do infértil inseto.

Não te quero perto
o ser e o parecer
são miragens ocultas
da raíz segura ao ventre
da terra semi-nua.

Não te quero perto
quando as curvas onduladas
pelo azul marinho do teu ser
pacificarem o querer num arco horizontal.

Novo amanhecer

a desordem do meu sangue 
na aventura de te querer perto
inventa o que sou
para sermos nós em partilha.
o interior inquieto 
onde vagueiam meus 
olhos poéticos
em pensamentos oblíquos
quere-te por perto
e segue-te em linha reta.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Imaterial de mim


Quero abraçar toda a riqueza do mundo

mas não quero ouro nem prata
o dinheiro não vale
quando a tecnologia pula e avança.
Vozes fugidias misturadas com o tilintar do cobre

faz o charuto o seu príncipe
inconcebível ao comum dos mortais
ser rico na vida
é a agonia do pobre indulgente
que desafia a serpente no deserto.
Perder o que não foi ganho
pelo mendigo
é subir a escalada de nada
calcorrear os passos da astuta avestruz.
Na mina, o sol não espreita
a luz do dia, apenas sente o medo
de encontrar nas entranhas da terra
a bola de cristal
na crisálida em metamorfose.
Sem tirar nem por
as pérolas no vazio do ar bafiento
minam a rica hipocrisia
engalanada no bico da cotovia.

Errar

O erro faz parte da flor que brota
da semente inventada de amor
na proximidade do feito
a planta vive dentro da rocha
enquanto a dor desabrocha perto do peito
na noite agarrada à raíz do desfiladeiro
sobre as rodas do voo inóspito
é rede fugaz da alma
com sede da saudade
átmo que se sustenta
porque a meta se suspensa na leveza
do suor da calçada.
No vácuo do universo de luz
as madrepérolas pairam no asteróide intruso
os brilhos intensos permanecem imóveis
na quietude amarga do silêncio
a força induz a alma branca
no lençol encardido de lágrimas
risos malévolos encarnam o ser imaterial
o diabo fica à solta
e morde o isco.

Horizonte



O mar bate na tua vidraça
e do avesso pressentes o navegar da canoa
no rio Tejo
A nado buscas o cais
onde o aporte é inavegável.
Embarcas no destino
e levas no pensamento
a outra margem da praça
sem pauta, sem vírgulas
é lá que queres estar.
Quando o cerco se instala
o infinito de ti abarca as ondas
e as vogais se encaixam alinhadas
nos antigos astros pendurados nos mastros
numa monotonia indelével.
Tu és a gramática dos dias incertos
música no pensamento real
com o passar do tempo quieto
aperfeiçoas a técnica no campo de jogos
cujas lâminas de barbear
rapam o rosto cosmopolita num local mágico e irreverente.
A parte de ti é um todo do universo
não tenhas medo e enfrenta-o
está em mim, a tua aventura
além de nós
além do fim.

Pele

Sem entender nada
faço figas ao esquecimento
quando me lembro das linhas poligonais
num cerco quadrado, amorfo
cujo corpo redobrado, envelhecido
dá azo à imaginação fértil da forma triangular.
Os números são quimeras cruzadas
na sólida argamassa
uma casa de cometas
deslavada pelos corredores estreitos
de ruelas e fontes fronteiriças
resenha histórica de mastros
sem ocupação oficial.
A pele arrepia a marcha
o poema escrito à mão encarece
e as balas que atravessam o peito
amortecem a dor na matéria da estrada.
O gemido acutilante vem de fora 
o amor está dentro
a prosa no texto emerge e explode
no mergulho do mar o poema inventa
o toque da alvorada sorrateira
baloiça no avião a jato
o bater do pé enérgico soa
com o rufar dos tambores
a tribo traz à mente o esforço do guerreiro.

Fragmentos

A temperatura aquece o corpo
num gesto amplo e frio
a onda de calor esbate
e a fruta sumarenta
circula nas artérias das principais cidades
a leveza fina da alma eleva o desejo
de murmurar em suspiro a obra poética
 à frente do casario
que se estende até ao mar.
A neblina avança por ruelas tranquilas
iluminadas por lampiões
sujos e gastos
ocultando o fracasso dos passos
encestados nas redes dos pescadores
para desespero dos barcos.
Com a fúria do vento
o timbre fechado na voz
o moinho em remoinho
quebrado em desalinho
no mais profundo abandono
mói o sentimento quente
no parapeito da janela
meio dia, metade da vida
na alegoria da caverna
investida, sem mós.

Girândola

Navego nas águas turbulentas
grito ao despudor dos dias triviais
não conheço a amargura dos ais
na cabeça do passado
decifro as contas no horizonte
na esperança de encontrar o mundo
com dois olhos incrustados de safiras
no alto mar.
A música em remoinho
na girândola rodopia
transformando os segredos
em arcos penetrantes
na escalada agitada
do maremoto em calcário
sucumbido na pedra acinzentada
pelo bosque fino de arrozais.
A cartada final
espicaça o epicentro lunar
enquanto a rotatividade corrupta
nega ao entardecer a mão
de uma jovem criança
amarrada à proa da canoa
para proteger a terra
dos templários medievais.

 

terça-feira, 11 de junho de 2019

O corpo etéreo

O corpo é a alma celeste colina de sete mares no mapa astral o risco arriscado do voo rasante pintalgado de madrepérolas até ao infinito de memórias ancestrais. Vida, sol, maresia dentro de uma caixa surpresa levitam no pensamento, sem cruz. O medo nas mãos suaves, dos compositores cuja sonoridade eleva o espírito, num fio de cordel, um single em off tecnologia avançada numa plataforma digital. Sem mácula, imaculada no interior do universo, a mente aberta abraça a lua. Ver para crer, sentir para nascer, a arte divina.

A casa

Lugar primeiro
condição si que non
para o sonho ter lugar
lar tranquilo
Resultado de imagem para imagem de uma casanuma tranquilidade calada
uma metamorfose inquietante
máscara robusta
de forma e movimento
um alpendre em rodopio
um rés do chão
e um só andar
casa de estar
tendo por companhia
os pássaros
a alegrar as noites calmas
um quarto aquecido
pela lareira da sala
num coração adormecido
de laços e artefatos
da sensibilidade do construtor.

Asas

Sacrifico as asas
no queixume de glória
para conhecer o mundo
em segredo.
Durmo sem medo
sobre os lírios arroxeados
de hastes verdes
amarelecidas pelo tempo.
Resultado de imagem para imagem de asasUm espetacular  crepúsculo azul
por cima do meu corpo reage
alienado pelo espaço inebriante
levando nesse cair da noite
a esperança
de um amanhecer diferente.
O céu e a terra se fundem
num ramalhete de madressilvas
num pedestal de sabor agridoce.
Encosta acima
a água jorra incessante
no vale agreste
num desfiladeiro
de imagens subtis
dançantes ao vento
fazendo eco nas passadas
do bosque.



Intemporal








Não há maior ventura
Resultado de imagem para imagem de um valenem maior deslumbramento
do que abrir a janela verde
e observar uma neblina tímida
 ao fundo do caminho estreito
e sentir a voz empolgada
de uma natureza robusta.
Sentir o gemido da terra
das entranhas do vale
o impenetrável som
masca no labirinto azul
o colírio do pintassilgo
acetinado de penas
na planície da presença humana.

Eu e tu somos um



Resultado de imagem para imagem de dois namorados







No silêncio
as palavras saem
do interior de nós
enquanto mergulhamos
o pensamento
no espaço da recordação.
Colhemos hoje
a mais distinta flor
 do aroma floral
da cor do sangue
 desejo personificado
que preenche e enche
o campo cultivado de desafios
que nos fez voar e crescer
no peito abotoado pelo tempo infinito.
Sente
conforta
a minha alma enigmática
porque
tu
eu
nós somos iguais.

Liberdade

O voo das folhas suadas pelo vento
rasga os ares numa folha de embrulho
juntando uma melodia
de um pedaço do céu
num baile dançante.
Lá fora, o sol brilha
e já não se sente o rumor das folhas
porque a melodia poética
é suave e tem o aroma
leve e fresca do bico da ave
no coração atento
invisível ao olhar.
Resultado de imagem para imagem da liberdade